A adolescência é um
período onde a pessoa vai começar a passar por extremas mudanças, tanto interna,
quanto externa. Internas, no que se diz respeito às introjeções ela vivencia
enquanto criança, que é a “aceitação passiva” de crenças, valores,
comportamentos, sentimentos e pensamentos que a criança aprende na relação com
a família. Então ela irá começar a questionar tudo isso que ela “recebeu” ao
longos dos anos para começar a criar sua própria percepção de mundo e de “eu”.
As mudanças externas significativas são duas: a primeira em relação à vida
social, onde o adolescente vai sair do seio da família e vai encontrar outros
grupos (amigos, colegas) no qual ele vai querer se sentir pertencido; e o
segundo, as mudanças corporais que ele irá enfrentar como o crescimento. O
corpo dos adolescentes possui uma linguagem muito particular, e é preciso estar
atento a essas mudanças.
O corpo que o
adolescente conhecia tão bem na infância, começa a mudar gradualmente, se
tornando algo desconhecido e fora de controle. Os membros ficam maiores: ombros
largos nos meninos, o alargamento das ancas e da bacia nas meninas; inicia-se o
desenvolvimento dos órgãos sexuais, as meninas passarão pela menarca e os meninos
conhecerão a ejaculação. Além também da “chuva hormonal” que ocorre neste
período, que influencia em seu temperamento.
Devido à mudança no
temperamento, o adolescente pode apresentar uma necessidade enorme de se “movimentar”.
Ele pode se tornar mais impulsivo, apresentar mais irritabilidade, desejo de
chorar e descarregar suas emoções, brigas, melancolia e dormir... Dormir MUITO.
O corpo é uma demanda
importante na vida do adolescente e ele ficará em evidência pois é a partir do
corpo que o adolescente vai suprir suas demandas de desejo, aceitação social.
Tudo é colocado no corpo: seus sucessos e seus fracassos (eu já falei sobre
autolesão na adolescência, dá uma olhada no Instagram).
O corpo estará em
primeiro plano na adolescência e a importância que o adolescente dá a seu corpo
deve ser tratada em sua certa medida, evitando a desvalorização deste corpo ou
o contrário, sua valorização. Isto deve ser evitado pois pode-se instalar uma
percepção narcisista sobre ou então uma percepção distorcida sobre esse corpo.
Você já reparou que quando se trata das vestimentas, às vezes escutamos falas
como “meu corpo não serve nessa roupa” ou então “eu tenho que emagrecer para
caber naquela calça”? É como se houvesse algo de errado com o corpo por não
caber naquela roupa específica, mas não é. O movimento deve ser o contrário: a
roupa que deve caber no corpo, não o corpo caber na roupa. Este movimento fica
evidente na adolescência devido às mudanças corporais existentes e se não dado
a devida atenção, poderá ter consequências em longo prazo.
Na infância, a criança
usa o corpo como “motor” para descobrir o mundo: andar, correr, cair, explorar
o ambiente. Na adolescência, diante a todas essas transformações, ele vivencia
uma angústia ao entrar em contato com esse corpo que também passa a ser
erotizado, que é UMA das características do desenvolvimento da sexualidade no
adolescente. Por esse motivo, a masturbação pode ficar evidente neste período,
assim como fantasias sexuais e o desejo dirigido ao corpo do outro.
Na minha experiência
recebi em meu consultório, adolescentes profundamente angustiados com o
desenvolvimento do seu corpo e as decisões que queriam tomar. Lembro-me de certa
vez de uma adolescente que planejava colocar um DIU (dispositivo intrauterino)
e não sabia como abordar o assunto com a mãe, pois ela dizia que a mãe nunca
conversou com ela sobre seu corpo, sua sexualidade e que neste momento estava
preocupada com o julgamento da mãe devido a sua decisão de usar o DIU. Neste
sentido, foi necessário primeiro compreender a importância que a adolescente
dava para os julgamentos da mãe e posteriormente, chamar essa mãe para uma
sessão para juntas para estabelecer um diálogo entre as duas.
O adolescente não TEM
um corpo, ele É o seu corpo. E o corpo é uma fonte abundante de conhecimento e
de autoconsciência, pois é por meio dele que nos relacionamos com o mundo,
tanto de forma afetiva quanto de forma racional. É necessário falar sobre o
corpo com seu filho adolescente e ensiná-los que essas mudanças e o que ele(a)
sente é um processo natural da vida.
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Referências:
Cornejo, L. (2009). Manural de Terapia Gestáltica aplicada a los adolescentes. 3a Ed., SerendipitY
Zanella, R., Antony, S. (2016). Trabalhando com Adolescentes: (re)construindo o contato com o novo eu emergente. Em: Modalidade de Intervenção Clínica em Gestalt-Terapia. L. M. Frazão, K. O. Fukumitsu (org.). Summus Editorial, São Paulo, SP. 2016
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Gustavo Vinicius Martins Leal
Psicólogo (CRP - 23/1833), Gestalt-Terapeuta.